Em entrevista ao site Vermelho, nosso irmão mais velho, o Henrique (também conhecido como Nal, em família; Laguinho, no movimento estudantil e militância; ou Lago, nas redações), lembra o ambiente em que fomos criados:
“A porta da casa de papai estava sempre aberta. Dolores Duran ia lá mostrar músicas. Carlos Marighela ia lá discutir coisas do PCB. Meus amigos e companheiros de militância política iam lá conversar. Era assim desde que me entendo por gente.”
“A porta da casa de papai estava sempre aberta. Dolores Duran ia lá mostrar músicas. Carlos Marighela ia lá discutir coisas do PCB. Meus amigos e companheiros de militância política iam lá conversar. Era assim desde que me entendo por gente.”
Foi assim por onde passamos, Rua Conde de Bernadotte (Leblon) e toda a série de Copacabana - Rua Barata Ribeiro, Rua Bolívar, Rua Bulhões de Carvalho, Rua Gomes Carneiro, Rua Júlio de Castilhos ... bastava empurrar a porta e entrar.
O hábito rendeu um dos mais hilários casos da família, embora o motivo não tivesse a menor graça. No dia 2 de abril de 1964, um dia após o golpe militar, a repressão invadiu a casa, para prender papai e nosso avô materno (o dirigente comunista Henrique Cordeiro). Vieram com tudo, grande aparato, muitos homens, muitas armas. Fecharam a rua (Bolívar), bloquearam a entrada do edifício (n° 86), ocuparam sorrateiramente os pontos estratégicos. A porta dos fundos do apartamento (302) era, obviamente, um dos alvos principais. E, assim, foi devidamente cercada. Mas, ao sinal de: “AVANÇAR!”...
Acontece que a porta-alvo (sem tranca!) ficava exatamente em frente à porta do quarto de empregada; as duas separadas por um pequeno hall de um metro e meio de largura, se tanto. Dá pra imaginar o que aconteceu quando uns 10 homens armados se lançaram sobre o tal alvo? Estabacaram-se no chão do quarto, caindo uns sobre os outros, como em filme de pastelão.
Diante do incontido riso de minha mãe, um policial ainda perguntou tentando manter a pose:
- A senhora não tranca a porta?
- Nunca.
- E não tem medo da casa ser invadida por ladrões?
- Até hoje, não tinha sido.
Curiosidade - Quando nos mudamos para a Rua Júlio de Castilhos, em Copacabana, a fechadura só abria por dentro. Para abrir por fora, só com chave. Deu-se um jeito. A porta ficava em uma parede de tijolos de vidro. Não sei qual de nós (parece coisa do Kakalo) quebrou o que ficava ao lado da fechadura. Ao chegar, era só enfiar a mão e girar a fechadura. Adeus, chave!
Veja a entrevista do Lago no site (http://www.vermelho.org.br/prosapoesiaearte/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=169542)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
- Comentários obscenos, ilegais, ofensivos, anônimos ou de caráter publicitários não serão admitidos
- Não aceitamos spam
- Seu comentário está sujeito à aprovação prévia do moderador
- Obrigado pela visita! E volte sempre!