(escrito em julho de 2007, para Pietra, e que estendo a Arthur e todos os nossos pequenos)
Pequenina,
seja bem-vinda à estrada da existência!
A partir desse instante, você tem pela frente nada mais e nada menos do que a vida, uma incrível viagem de descobrimento, sem rotas previamente traçadas, sem guias e sem mapas. Você terá que tatear no escuro e ir em frente. Sempre! Cruze os dedos e bote fé na estrada.
Para a caminhada, só tenho a lhe oferecer uns conselhos de vó. São conselhos bem banais - bobinhos, mesmo -, mas podem ajudar.
Seja bem curiosa e atenta ao percorrer essa estrada. Repare em tudo e em todos. Fale muito e ouça muito. Olhe, toque, prove, pense, descubra, pergunte, reflita, decida.
Dê sempre mais valor às conquistas do que às perdas; às presenças do que às ausências; às alegrias do que às tristezas. Porque o contrário, pequenina, corroi a vida, mina a essência que nos anima.
Decerto, haverá dores, dúvidas, angústias, incertezas (muitas!)... nada tem o poder de evitá-las. Mas não permita que lhe amarguem a existência. A própria vida ensina a contornar as tristezas. Quando não, ensina truques para bem conviver com elas.
Entenda que nós – os chamados humanos – somos falhos e frágeis, feitos tanto de fraquezas como de virtudes. Entendendo isso, não supervalorize nem umas e nem outras.
Não perca tempo com picuinhas, intrigas, mentiras e todas as retaliações bestas e banais que corrompem os sentimentos.
Nas pessoas, busque sempre os olhos; mire neles. Por ali, pode-se chegar à alma (a essência que anima). Não é garantido, mas há grandes chances.
Acredite que tudo, absolutamente tudo, tem uma solução, mesmo que você não goste da solução que se apresenta. Encare e siga firme. E, sempre que necessário, rebele-se.
Sonhe e defenda os seus sonhos. Como dizia uma canção da minha época, de um baiano bonito chamado Caetano, “sempre peça licença, mas nunca deixe de entrar”.
Apesar do seu nome, que é pedra, desconfie das verdades pétreas. Respeite e aceite de bom grado as diferenças, os diferentes e mesmo os contrários. Cada um de nós é único – e isso vale não só para você, viu?, mas para qualquer pessoa. É nisso e por isso que somos todos iguais.
Olhe pra tudo pela ótica da compreensão, que, se você quiser, pode ser filha do conhecimento. Conhecendo, não permita que a compreensão adquirida no tempo vire acomodação, ceticismo ou raiva - “que a vida é assim mesmo”; “o mundo não tem jeito”; “o ser humano não presta”. Faça da compreensão uma chama, um poder transformador, uma esperança renovada.
Claro que esses segredos são tão falhos e frágeis como nós, humanos. Não são verdades. São só segredos e truques de uma avó que acaba de nascer.
Mas espero que, de qualquer modo, pequenina, você construa uma vida solidária, fraterna, libertária e que valha a pena ser vivida, com todos os não e sim que sempre cruzam a existência. Uma vida da qual você se orgulhe ao olhar pra trás, já quando estiver bem velhinha. E que esse orgulho venha não das coisas possuídas e acumuladas, dos feitos heróicos, dos legados de poder, mas que venha apenas da construção cotidiana dos feitos humanos ...
“pois eles me deram uma alegre certeza: não foi vida jogada fora a que vivi”.
Essa bela frase acima é do bisa Mário Lago, construída com a cumplicidade da bisa Zeli...
... que eu dedico a você, minha pequenina, com todo o amor, a admiração e o carinho ...
da avó Graça.
julho de 2007
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