segunda-feira, 25 de junho de 2012

NOVO SHOW. QUER IR?

Canções, poemas e histórias de Mário Lago comporão o show Nas águas do Lago, que a partir de julho viajará em temporada por mais de 30 cidades do Rio de Janeiro, mantendo viva a memória do artista em seu centenário.
O show reunirá um time de bambas, como Lago merece: a cantora Luiza Dionizio, o grupo Tempero Carioca e o compositor e diretor musical Mário Lago Filho, o Mariozinho, ou melhor, o Xará, como dizia papai (olha os dois na foto aí, gente!).
A cidade do Rio será o ponto de partida e de chegada da turne, com abertura no próximo dia 9 de julho, no Teatro Rival (Centro), às 19h00, em noite especial para convidados e imprensa.
Para os seguidores do blog, um presente: os 10 primeiros a enviarem mensagem para o email mariolago100@globo.com, ganharão convites duplos.

Só samba
Mariozinho Lago atua quase nas 11 - é o idealizador, roteirista, diretor e ator do espetáculo. Neste final de semana, colocou o ponto final no roteiro e adianta:
- Será basicamente um show de samba. Das 30 músicas selecionadas, só duas fogem do gênero - Enquanto houver saudade, com o Marquinhos China, e Nada além, com a Luiza Dionizio. Mas podem ficar tranquilos, porque eu não canto. A integridade auditiva de todos está garantida. A minha parte é contar alguns dos muitos causos de papai e dizer os poemas.
Para assegurar a alta qualidade sonora do show, Mario conta com Luiza Dionizio ("É luz, é canto de luz que reluz, luminosa é Luiza", como avalizou o mestre Luiz Carlos da Vila) e com o Tempero Carioca, que só tem fera - Marquinhos China (voz), Agrião (voz), Serginho Procópio (cavaquinho e voz), Marcelo Pizzotti (pandeiro e voz), Evandro Lima (violão e arranjos), Marquinho Basílio (surdo) e Pelé (percussão).
 A turnê tem patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e da Empresa Brasileira de Correios.
 Gostou? Então, mande já a sua mensagem para o email mariolago100@globo.com e garanta o seu ingresso.

sábado, 16 de junho de 2012

QUE VERSOS POSSO FAZER?


À Comissão da Verdade, em memória dos mortos e desaparecidos da ditadura. 
PS: em memória de Iramaya Benjamin, mãe dos nossos amigos Cid, Léo e Cesar, "mãe" do Manuel (quando ele estava preso, sem visitas, massacrado, Iramaya furou o confinamento apresentando-se como sua mãe, levando solidariedade e conforto ao Manuel) e uma das principais lideranças femininas na luta pela Anistia e contra a ditadura.
 
Mil dos que amei vi tombados
de outros, nem pude saber.”

Mais célebre das fadistas de Portugal, Amália Rodrigues (http://www.portaldofado.net/#/content/view/850/249/) tinha especial ligação com o Brasil, onde conheceu o segundo marido, César Seabra, com quem viveu até a morte dele. Uma da muitas temporadas da cantora em nosso país foi em 1972, para gravar o disco Um Amor de Amália, ao vivo, no Canecão.
No Brasil de então:
> Mário Lago escrevia o livro autobiográfico Na rolança do tempo, um passeio não só por sua vida como pela historia do país na primeira metade do século XX. Finalizava o samba Salve a preguiça, meu pai, lançado no ano seguinte por Beth Carvalho (neste vídeo mais do que caseiro http://www.youtube.com/watch?v=czOdAS7n1g0, é a terceira música do potpourri, na interpretação de Neguinho da Neija-Flor). Na TV, participava dos especiais O matador, de Oduvaldo Viana Filho; O dicionarista, de Marcos Rei, e Dama das camélias, de Gilberto Braga e Oduvaldo Viana Filho. Mas seu maior sucesso do ano seria o personagem Sebastião (foto abaixo), na novela Selva de pedra, da amiga Janete Clair.  
> A pista de Interlagos (SP) entrava para o circuito da Fórmula 1 com uma prova fora do campeonato, vencida pelo piloto argentino Carlos Reutemann. Líder da corrida durante quase todo o percurso, o brasileiro Emerson Fittipaldi rodou e parou pouco antes do final. A compensação veio em 10 de setembro, quando Emerson conquistou o primeiro título mundial de Fórmula 1 do Brasil.
> Começava a era das cores na televisão brasileira. A primeira grande transmissão foi a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul.
> O crescimento econômico beneficiava poucos. Vigorava a tese de que era preciso “fazer o bolo crescer para, depois, repartir”. Aumentava a desigualdade social e a dívida externa. 
> De desastre aéreo, morria a atriz, vedete e libertária Leila Diniz.
> Caetano Veloso voltava do exílio, lotando shows no Rio, São Paulo, Recife e Salvador.
> O Exército iniciava as operações contra a guerrilha do Araguaia (http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/multimidia/araguaia/mapa_01.swf), movimento organizado pelo PCdoB e que, no auge, aglutinou cerca de 100 guerrilheiros e simpatizantes (moradores da região). Levou dois anos até ser massacrado por um exército de 10 mil soldados, com a ordem de matar, mesmo os presos. Até hoje, estima-se que 60 corpos de guerrilheiros continuam desaparecidos. Apenas dois - Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias - tiveram seus restos mortais encontrados, identificados e sepultados
> Engordava a lista de mortos e desaparecidos pela repressão política, passando a incluir mais 56 militantes políticos de oposição à ditadura. A maioria tinha entre 20 e 35 anos. Entre eles, coisa que a gente só saberia tempos depois, figurava um amigo de infância dos filhos de Mário Lago - Paulo César Botelho Massa, dono de lindos olhos azuis, namorado da Ciça e amigo do Mauro (Ciça e Mauro, junto com a Tai, formavam o trio de meus melhores amigos, filhos do casal Naldir e Zilma Laranjeira Lima Baptista, que me aturaram todos os dias de muitos anos da infância e adolescência e ajudaram a tornar menos duros os anos de chumbo).
Fontes:http://www.torturanuncamais-rj.org.br/ e http://www.documentosrevelados.com.br/
 ***********
Uma noite, após o espetáculo, Amália Rodrigues foi com a trupe ao restaurante Fiorentina, no Leme, parada obrigatória de todos os artistas locais ou em visita ao Rio. Mário Lago tinha mesa cativa por lá. O encontro dos dois foi marcado pela pergunta da cantora: “ó, Mário, tem feito versos?”.
Na noite seguinte, Mário convidou o xará e caçula Mariozinho para uma caminhada pela praia que os levou ao hotel Copacabana Palace, onde Amália estava hospedada. Na recepção, deixou um bilhete manuscrito e rimado para a fadista:
À cantora Amália Rodrigues, que me perguntou se tenho feito versos:
"Dos meus salvados do incêndio,
um grande abraço escolhi.
se alguém o descobre, prende-o...
Amália, leva-o pra ti!"

Junto com o bilhete, ia uma braçada de rosas e o poema

QUE VERSOS POSSO FAZER?

Poesia é instante de lua
ardência de amanhecer.
a morte saiu à rua ...
Que versos posso fazer?

Mil dos que amei vi tombados
de outros, nem pude saber.
Lares em pranto, fechados ...
Que versos posso fazer?

Janela aberta é suspeita,
pois pode o vento trazer
a voz de quem nos aceita ...
Que versos posso fazer?

Ao mar puseram mordaça
pra que não tenha a dizer
o quanto já viu de desgraça ...
Que versos posso fazer?

O sol foi posto entre grades
e o ar já querem prender;
perigo tais liberdades ...
Que versos posso fazer?

O eco do grito demora
com medo de responder.
É século de hora em hora ...
Que versos posso fazer?

Robôs em susto, de joelhos,
proibidos de estar ou de ser.
Barreiras, sinais vermelhos ...
Que versos posso fazer?

A vida é vida levada,
mataram o sal do viver,
aalma é terra arrasada ...
Que versos posso fazer?

Andamos estrada escura,
gado pra além se abater,
cabeça baixa é a postura ...
Que versos posso fazer?

O gesto é o jeito do açoite,
a voz é a vez de morrer,
de tudo fizeram noite ...
Que versos posso fazer?

Mas, apesar dos pesares,
um novo dia vai nascer.
Então direi, se indagares,
Que versos posso fazer.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

UMA HISTÓRIA DE INSUCESSO E UMA DICA

Caros, comecemos com a história de insucesso: o nosso "quizz" rendeu só fracasso (
http://www.youtube.com/watch?v=_geGytTJtH0) Ainda assim o blog está na obrigação de responder às perguntas formuladas. Portanto, aí vão as identificações: 

Foto 1, à direita: a cena de Com a pulga atrás da orelha, de George Feydaud, reúne Mário Lago (na ponta esquerda), Francisco Cuoco (de olhos arregalados) e Oswaldo Loureiro (com incríveis bigodes).
Dirigida por Gianni Ratto, a peça foi encenada no Teatro Ginástico, Rio de Janeiro, em 1960, pelo Teatro dos Sete. O novo grupo foi fundado em 1959, por dissidentes do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) - Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Sergio Britto e Ítalo Rossi, associados ao diretor Gianni Ratto. A foto é do acervo do Correio da Manhã, que tem ainda a pérola abaixo.

  

Elenco completo da peça. Da esquerda para a direita, em pé, Renato Consorte, Suzy Arruda, Labanca, Sergio Britto, Napoleão Moniz Freire, Mário Lago, Oswaldo Loureiro, Norma Blumm (?) e Francisco Cuoco; sentados, Carminha Brandão, Ítalo Rossi, Fernanda Montenegro e Zilka Salaberry




Foto 2, também à direita: Mário contracena com Margarida Rey, na peça Um castelo na Suécia, da escritora francesa Françoise Sagan. Direção de Adolfo Celi e monatagem da célebre companhia teatral Tônia-Celi-Autran (de Tônia Carrero, Adolfo Celi e Paulo Autran). O grupo encerrou as suas atividades em 1961 com a encenação de três peças: Lisbela e o prisioneiro (de Osman Lins), Um castelo na Suécia (de Françoise Sagan) e Tiro e queda (de Marcel Arhard). Celi despediu-se na peça de Sagan, na qual também apareceu em cena como ator. Acervo Correio da Manhã.

OBS: No tal pseudo quizz, escrevi que a atriz havia comemorado o centenário no ano passado. É que confundi com a Lélia Abramo (parece, né?). Mil perdões. Margarida Rey nasceu em 1922.

A dica: se você quiser explorar um pouco mais sobre a vida de papai, visite a exposição virtual do Arquivo Nacional http://www.exposicoesvirtuais.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=202